~ Cuidado, a resenha pode conter spoilers ~
Starters é um livro que engana pela sinopse. Quando li a premissa do livro, criei mil e uma teorias sobre como
Lissa Price abordaria o tema de uma guerra que havia eliminado do planeta todos aqueles que tinham idade entre 20 a 60 anos
. E imaginei qual seria o caminho que a autora seguiria. Admito que imaginei todo o tipo de trama conspiratória. Imaginei grupos revolucionários lutando contra um sistema tecnológico implantado pelos tais de
Enders (os velhos da história). E por aí vai. Não que a história não tenha sua pitadinha de conspiração, mas não na escala que imaginei que chegaria.
Starters pode ser considerado um livro interessante em termos de
distopia, mas não chega a ser um dos melhores e mais originais do gênero. Mas mesmo assim, eu gostei do livro. Confesso que até a metade da trama estava começando a me desanimar, pois achei que toda a minha expectativa não seria saciada. E na verdade, não foi mesmo. Mas
Price acabou me surpreendendo. Lá pela metade do livro as coisas começam a realmente esquentar, e prender a atenção. A trama realmente melhora e finalmente toma uma forma e um rumo. O segredo por trás do fato estranho de
Callie ter acordado em seu corpo, sendo que deveria estar
"dormindo" enquanto uma
Ender, chamada
Helena, alugava seu corpo, começa a se moldar. Como se não bastasse, uma estranha
Voz surge em sua cabeça, fazendo a garota começar perceber que nada do que a
Prime Destinations faz é tão inofensivo quanto aparenta ser. O que me chamou a atenção para a trama foi que tudo o que aconteceu é decorrente da
Guerra dos Esporos e da
Prime Destinations. Envolvendo politicos, chantagem, cobaias, grandes mistérios sobre o desaparecimento de certas pessoas, isodos insatisfeitos, jovens lutando pela própria sobrevivência e... o
Velho.
Aproveito para falar dos personagens. O
Velho, é um dos grandes mistérios do livro.
Quem ele é e o que quer? Por que está por trás de uma organizção como a Prime Destinations, usando corpos de jovens inocentes para ganhar dinheiro... ou talvez mais que isso? A impressão que tive é que há um motivo muito maior por trás, mas que não fica claro ou é revelado. Algo que não envolve apenas dinheiro e poder, mas algo a mais. O
Velho só dá as cara pra valer, mais para o final do livro, mas o terror que causa já é o suficiente para o livro inteiro. Ele destrói vidas, corações e esperanças... Destroe sonhos. E não mede esforços para escapar, conseguir o que quer, etc. Sua maldade é tao grande, que causa arrepios. Não que ele cause medo, mas a sensação de impotência que causa é opressora. Não só para os personagens, mas para os leitores também. Ele não deixa às claras quem é, e pode ser qualquer um, até mesmo alguém que aparece constantemente na trama, mas sua identidade nao é revelada. E este é outro fator que o torna terrível. Gostei do personagem como vilão.
Callie foi uma boa personagem, e cumpre seu papel. Apesar de ter me decepcionado um pouco quando a garota acorda em seu corpo novamente, depois de
Helena ter assinado seu aluguel, e acordar em uma mansão, cheia de dinheiro e recursos... e por alguns momentos se esquecer de seus objetivos. Isso me deixou um pouco chateada. Afinal nem parecia que ela havia vivido tanto tempo nas ruas, dormindo em um chão duro e vivendo de sobras. Não que a garota não pensasse no irmão
Tyler, ou em seu amigo
Michael, e em como eles estavam sobrevivendo sem ela. Mas ela tinha lapsos. Entende-se ela se sentir deslumbrada em alguns momentos com toda a opulência ao seu redor, mas em alguns momentos ela falhou como heróina. Um destes momentos é quando duvida da
Voz em sua mente, que se revela ser
Helena. Ela duvida das teorias da
Ender sobre a
Prime Destinations, apesar de tudo estar bem embaixo do seu nariz,,
e tudo acaba virando uma grande tragédia... que pode se resolver é claro. O problema é que sempre há uma brecha para que o mal perdure, né?! Bom, tirando estes fatores, eu gostei da personagem, sim! Ela é forte e determinada, e quando se dá conta do que realmente está acontecendo ao seu redor, sua coragem toma grandes proporções.
Tyler e
Michael são sua familia no pós-guerra, eles não aparecem muito no decorrer da trama. Mas tem alguma importância para a história.
Tyler, é frágil e sofre de uma doença pulmonar grave, mas sua doçura e modo de encarar a vida são encantadores, assim como sua coragem para um garoto que tem apenas
7 anos de idade.
Michael por sua vez é o caso de amor mal resolvido de
Callie, que não chove e não molha, e fica por isso mesmo,
risos.
Também há
Blake, um jovem rico de
16 anos, filho de um senador importantissímo que está concorrendo à eleição
(e também tem sua cota de importância na trama). Ele garantirá romance para
Callie, um alívio em meio a tanta dor, e muitas surpresas.
Helena, a inquilina do corpo de
Callie é uma personagem de suma importância para a trama. É ela que move
Callie a questionar o que nem imaginava. É ela que a faz enxergar o que há por trás de diversos acontecimentos e que a faz ver que precisa lutar, muito mais do que tem lutado, não somente pela sua vida, mas pela vida de tantos outros.
Também há muitos outros personagens memoráveis, mas são tantos que fica dificil falar de todos aqui.
Na distopia criada por
Price uma coisa que me incomodou muito foi a tal da
Guerra dos Esporos. Não pela guerra em si, ou pelo fato de ela ter acontecido ou não, mas pelo fato da autora não dar explicação nenhuma sobre a bendita da guerra. Eu juro que esperei o livro inteirinho, ansiosa por uma explicação plausível e digna, mas nada, nadinha de nada de elucidarnos com sua ideia sobre a tal da guerra. Termina o livro e não se tem quase informação alguma sobre as causas, apenas os efeitos. Ou seja, sabe-se que pessoas entre 20 a 60 anos
de idade morreram, deixando orfãos para trás, e idosos no comando do governo e sistema mundial. Isso por que deu-se prioridade para vacinar contra os esporos os idosos, crianças e adolescentes, que seriam mais fragéis em relação a doença. Além disso, vê-se o efeito que a guerra e a tal doença causou no planeta.
Afora isso, a curiosidade me matou muito, muito mesmo. Gostaria de saber o porque da guerra.
O que motivou a guerra, e porque ela aconteceu. E o que são estes tais de esporos (tudo bem, eu sei o que é um esporo, mas que tipo de esporo a autora cita?)? O que eles causam? Do que as pessoas morrem e o que a doença causa?Sei lá, posso ser um tanto exigente, mas acho que se a autora resolveu criar uma distopia, em que a guerra é o cerne para os acontecimentos que se desenrrolarão no livro, deve ter uma base e uma boa teoria sobre a mesma. Ficou um tanto estranho e vago, e causa um tanto de descredibilidade à trama de
Price. Não é como se
Callie tivesse nascido em um mundo devastado, ou dominado por
Enders com seu sistema autoriário sobre os jovens, que tem que lutar para sobreviver. Se explicaria a situação vaga no caso, pois a jovem poderia não ter noção ou saber das causas da infame guerra. Mas
Callie viveu toda a situação de perto, vendo sua mãe morrer por causa dos esporos e seu pai sumir por causa da guerra. Então... é isso, este foi um dos meus descontamentos com a história, e vê-se pelo tamanho que ocupou em minha resenha.
Falando da narativa da autora, eu gostei sim. Só achei que não foi tão criativa. Apesar disso, gostei do livro de uma forma geral. Esta sensação de que os jovens não têm saída... isto é opressor. É realmente assustador. E a autora consegue passar todas estas emoções para o papel. Gostei de sua fluência em contar a história, e o fato de ela saber prender a atenção. O que me deixou triste é a morte de alguns personagens que interagem com
Callie, mas também torna tudo mais emocionante. A autora consegue criar todo tipo de situações e fazer nossos sentimentos aflorarem. Eu fiquei condoida com diversos acontecimentos e em determinado momento senti, junto com
Callie suas perdas e anseios. Achei interessante também, que há
Enders bons, assim como há
Starters ruins. E isso pode trazer muitas liçoes.
Um outro fato interessante, que não sei se muitos leitores irão apreender, ou parar para pensar. Mas eu fiquei me questionando o porque de os jovens serem denominados
Starters e os idosos como
Enders. E cheguei a uma conclusão, e entendi o porque:
Starters vem da palavra START em inglês, que quer dizer COMEÇO. Enders vem da palavra END em inglês, que quer dizer FINAL. Nem preciso explicar mais né.
O final do livro me supreendeu, e a isto tenho que dar uma salva de palmas para
Price. Sim, senhor! E quando você ler o livro, também se surpreenderá! Tia
Price consegue tirar um:
Oh My God! de nossos lábios e fazer nosso queixo cair. Fiquei bem supresa com a engenhosidade da autora. Ela foi realmente má,
risos. Muitas coisas que já tinhamos como certa, caem por terra e...
bum! fazem nosso coração parar. E o meu parou! Ponto a favor para a autora.
O trabalho editorial da
Novo Conceito, mais uma vez ficou supremo. A capa tem relevos nos circuitos, tem um tom metálico e ficou muito bacana. Apesar de terem usado a mesma capa que a original, e tem haver com a trama, eu não achei muito bonita. A revisão do livro deixou passar uma ou duas palavras, mas fora isto está tudo ok! O resultado é um livro bem editado e muito bonito. Mais um trabalho de qualidade da editora.
Realmente fiquei pensando em como fazer uma resenha de
Starters, e no final ela ficou
enormeeeeee. Acho que há muitos pontos bacanas no livro, assim como alguns pontos negativos. E no geral é um livro entre mediano e bom, dependendo do seu ponto de vista. Acho que como distopia poderia ser um pouco melhor, mas o final compensa muito, e realmente não te decepcionará...
em partes.Porque aqui vai uma noticia:
Price deixa um monte de pontas soltas, e te deixa louquinho (a). Porque muitas situações ficam no ar. Isso acontece porque este é o primeiro livro de uma série
(é se você não sabia, agora está sabendo, risos). O próximo livro é intitulado como
Enders, e ainda não tem previsão para ser lançado por aqui. Eu estou ansiosa pela continuação, para saciar minha curiosidade.